quarta-feira, 1 de abril de 2015

As orações não-respondidas


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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Dawkins dedica um tópico inteiro em seu livro para tratar de um experimento sobre as preces, no qual tenta provar que a oração é inútil. Trata-se de uma iniciativa financiada pela Fundação Templeton, para testar se a oração pelos doentes contribui para a sua saúde. Dawkins fala sobre este experimento nas seguintes palavras:

“Os pacientes foram divididos, de forma estritamente aleatória, em um grupo experimental (que recebeu preces) e um grupo controle (que não recebeu preces). Nem os pacientes, nem os médicos ou enfermeiros, nem os autores do experimento podiam saber quais pacientes estavam recebendo orações e quais eram do grupo controle. Aqueles que faziam as preces experimentais tinham de saber o nome dos indivíduos por quem estavam rezando – do contrário, como saber se estavam rezando por eles, e não por outras pessoas? Mas tomou-se o cuidado de contar aos que faziam as preces apenas o primeiro nome da pessoa e a primeira letra do sobrenome”

Os pacientes foram divididos em três grupos, como Dawkins prossegue em seu relato:

“O grupo 1 recebeu preces, mas não sabia disso. O grupo 2 (o grupo controle) não recebeu preces e não sabia disso. O grupo 3 recebeu preces e sabia que estava recebendo. A comparação entre os grupos l e 2 testa a eficácia das preces intercessórias. O grupo 3 testa os possíveis efeitos psicossomáticos de saber que se está sendo alvo de preces”

Em resumo, não houve nenhuma diferença entre os que receberam oração e os que não receberam. Mas os que receberam orações sabendo que recebiam orações pioraram de estado, o que foi considerado uma “ansiedade de desempenho”, nas palavras dos autores da experiência. Dawkins usa este experimento como uma evidência de que Deus não responde as orações, e que, portanto, Deus não existe – senão ele responderia as orações. Mas essa conclusão ignora o fato de que poderia haver outras razões para Deus não ter atendido aquelas orações, além da suposição de que “Deus não existe”.  

A maior razão é que, de acordo com a Bíblia, Deus não aceita ser testado pelo homem:

“Assim, como diz o Espírito Santo: ‘Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração, como na rebelião, durante o tempo de provação no deserto, onde os seus antepassados me tentaram, pondo-me à prova, apesar de, durante quarenta anos, terem visto o que eu fiz. Por isso fiquei irado contra aquela geração e disse: Os seus corações estão sempre se desviando, e eles não reconheceram os meus caminhos. Assim jurei na minha ira: Jamais entrarão no meu descanso’" (Hebreus 3:7-11)

A questão aqui é simples. Se Deus não aceitou ser colocado à prova com os israelitas, por que ele aceitaria ser colocado à prova hoje? O escritor bíblico diz claramente que Deus não aceitaria isso hoje, da mesma forma que não aceitou isso na época. Os israelitas viam os milagres de Deus acontecendo diante deles, mas mesmo assim, insatisfeitos, o colocavam à prova, querendo mais, querendo testá-lo. A mesma coisa aconteceu com Jesus. Ele fazia muitos milagres por onde passava, mas sempre se recusou a realizar um milagre quando foi colocado “à prova” por alguém.

Quando os fariseus colocaram Jesus contra a parede exigindo-lhe um milagre para “provar” que ele era enviado de Deus, Cristo respondeu:

“Os fariseus vieram e começaram a interrogar Jesus. Para pô-lo à prova, pediram-lhe um sinal do céu. Ele suspirou profundamente e disse: ‘Por que esta geração pede um sinal miraculoso? Eu lhes afirmo que nenhum sinal lhe será dado’. Então se afastou deles, voltou para o barco e atravessou para o outro lado” (Marcos 8:11-13)

Nem Deus, nem Jesus enquanto esteve na Terra, aceitaram ser colocados à prova, em um “experimento” para “provar” algo, tal como ocorreu no caso citado por Dawkins. Por isso seria surpresa se Deus mudasse de atitude em relação a um novo “teste” no século XXI e aceitasse ser colocado à prova desta maneira, ao invés de ser surpresa o fato de Ele rejeitar novamente, como sempre rejeitou. Isso não significa, obviamente, que Deus não responda as orações. Deus rejeitou ser testado pelos israelitas, mas fazia milagres por eles. Jesus rejeitou ser testado pelos fariseus, mas fazia milagres por aqueles que pediam com honestidade e boas intenções.

Da mesma forma, muitos nos dias de hoje dizem não crer em Deus e em Jesus pela falta de “evidências extraordinárias”, ignorando todo o mundo a nossa volta, que é um projeto tão perfeito que atesta por si mesmo a existência de um Projetista. Como todo projeto tem um projetista, e o Universo é o projeto mais magnificamente projetado que existe, é logicamente consistente crer em um design inteligente, a que chamamos Deus. Ele não precisa operar milagres extraordinários – que violariam a capacidade de livre-arbítrio para decidir crer ou não crer – pois a própria existência da vida a partir da não-vida já é um milagre.

Biologicamente falando, a vida só pode surgir de outra vida. Racionalmente falando, nada vem do nada. A existência da vida, assim como a existência do Universo a partir do nada (i.e, sem matéria, sem tempo), já constituem evidências mais que suficientes para provar a existência de Deus – e os milagres que a ciência não explica são apenas efeitos desta evidência maior. Dawkins pergunta em seu livro se os religiosos desdenhariam dos resultados do experimento se ele desse resultado positivo, mas ele não diz se ele próprio creria caso os experimentos resultassem em positivo. É claro que não. Dawkins está tão propenso a não crer quanto os religiosos estão propensos a crer.

É por essa razão que Dawkins desdenha de todos os casos de orações respondidas, mas dá demasiada atenção a um único experimento cujo objetivo maior não era a cura dos indivíduos em questão, mas colocar Deus à prova. Dawkins, por exemplo, não faz qualquer menção às cinquenta mil orações respondidas de George Müller (1805-1898). Todas as suas orações eram registradas em livros, com a data do começo da petição, o pedido a Deus, a data da resposta e como Deus respondeu. Existe o registro de cerca de 50 mil orações de George Müller respondidas por Deus.

Em seus dias, a epidemia da cólera aumentou drasticamente a quantidade de crianças órfãs, e Müller sentiu o chamado de Deus para abrir um orfanato, o que se deu em 1935. O problema era que Müller não tinha um centavo para cobrir as despesas do orfanato, e se recusava a ficar insistindo no pedido de ofertas, como fazem muitos pastores hoje em dia. Ele sequer aceitava receber ofertas quando saia para pregar, para não passar a ideia de que pregava por dinheiro. Todos os recursos vinham pela fé, e jamais o orfanato fechou ou as crianças ficaram sem ter o que comer. Em 1870 já eram cinco orfanatos e mais de duas mil crianças.

São inúmeras as histórias marcantes em sua vida de oração. Uma delas ocorreu quando não havia mais nenhum pedaço de pão para as crianças, e Müller pediu que todas as crianças dessem graças a Deus pelo alimento mesmo assim, e orassem na espera por provisão. Minutos depois um carroceiro bateu à porta, dizendo que sua carroça havia quebrado perto dali e se queriam ficar com o carregamento de pães que estava levando a outros lugares.

Em outra ocasião, uma das caldeiras do orfanato parou de funcionar, e Müller precisava disso consertado. Isso foi um problema, porque a caldeira estava emparedada e o tempo estava piorando a cada dia. Então ele orou por duas coisas: em primeiro lugar, que os trabalhadores que havia contratado tivessem ânimo para trabalhar durante toda a noite, e em segundo lugar que o tempo permitisse. Na terça-feira, antes do trabalho ter sido iniciado, um amargo vento norte ainda soprava, mas na parte da manhã, antes dos trabalhadores chegaram, um vento sul começou a soprar e era tão leve que não foi necessário acender fogo para aquecer as casas. Naquela noite, o encarregado da empresa contratada compareceu no local para ver como que ele poderia acelerar as coisas, e instruiu os homens informando, na primeira parte da manhã, para fazer um retorno precoce ao trabalho. O líder da equipe afirmou que eles prefeririam trabalhar durante toda a noite. O trabalho foi feito em 30 horas.

Em outra ocasião, durante a travessia do Atlântico, em agosto de 1877, o navio onde ele estava correu para um espesso nevoeiro. Ele explicou ao capitão que ele precisava estar em Quebec pela tarde do dia seguinte, mas o Capitão Joseph E. Dutton disse que ele estava retardando o navio por segurança e o compromisso de Müller teria que ser perdido. Müller pediu para usar a sala de navegação para orar para que o nevoeiro se levantasse. O capitão o acompanhou, alegando que isso seria perda de tempo. Depois que Müller orou, o capitão começou a orar, mas Müller o deteve, em parte por causa da incredulidade do capitão, mas, principalmente, porque ele acreditava que a oração já tinha sido respondida. Quando os dois homens voltaram para sala de comando, eles viram que o nevoeiro havia levantado. O capitão se tornou um cristão pouco tempo depois. 

Müller cuidou de mais de dez mil órfãos durantes os 63 anos em que decidiu confiar totalmente em Deus para o suprimento de suas necessidades, e nunca Deus o desamparou. A diferença básica entre ele e o experimento realizado pela Fundação Templeton é a motivação. Enquanto Müller orava sabendo que Deus existe, e buscando pura e simplesmente o atendimento das necessidades das crianças, o experimento moderno buscava basicamente colocar Deus à prova, para ver se ele existe ou não. Não apenas a motivação foi errada, mas a rejeição deliberada à oração por outros pacientes certamente seria desaprovada por Deus – diferentemente de Müller, que orava por todos.

No livro “Oração Intercessória”, de autoria de Dutch Sheets, há diversos relatos semelhantes aos de Muller – e alguns até mais impressionantes – que mostram o poder da oração e a intervenção divina na criação. De fato, quase todo cristão deve ter alguma história para contar, onde uma intervenção só poderia ocorrer pelo dedo de Deus. Há inclusive muitos registros de médicos que se converteram após verem pacientes perdidos para a medicina serem curados através da fé[1].

É difícil falarmos sobre orações respondidas com um ateu, pois o ateu já está previamente decidido que, seja lá o que foi que aconteceu, não foi Deus quem atendeu a oração, atribuindo qualquer fato a outras razões, por mais improváveis que sejam – ou mesmo quando não se há nenhuma outra razão alternativa. É por isso que se alguém tem câncer e é curado depois de uma oração, eles preferem dizer que 0,01% de todos os cânceres regridem espontaneamente, independentemente de fé ou crença, ao invés de admitirem uma intervenção divina.

Da mesma forma, se um paralítico volta a andar logo após uma oração, eles preferem dizer que a cura foi uma “autosugestão inconsciente” e que o paralítico era portador de uma “paralisia psicológica”, do que confessar que foi mesmo Deus que curou em função de uma oração naquele momento. Essa é a mesma “explicação” que eles têm para cegos que são curados no meio de um culto, ou portadores de enfermidades diversas. No fim das contas, chega-se à conclusão de que é impossível que um ateu reconheça um milagre ou uma oração respondida, porque ele já está pré-disposto a rejeitar a priori qualquer coisa do tipo e a buscar explicações alternativas por mais improváveis, problemáticas e absurdas que sejam.

Não importa quantas provas Deus ofereça, nem o tamanho da evidência diante de seus olhos. Ele sempre irá buscar uma resposta alternativa inventada por ele ou absurdamente improvável – mas que na cabeça dele é mais provável do que Deus, porque ele a priori rejeita a hipótese de “Deus”. Diante das várias evidências da travessia do mar Vermelho[2] há até alguns ateus que dizem que o mar abriu por causa de condições meteorológicas e não por intervenção divina, e que este fenômeno altissimamente raro e improvável ocorreu naquela ocasião, e os hebreus por ignorância pensaram que fosse um milagre divino[3].

Respondendo a isto, certo rabino disse: “O maior milagre não é o mar Vermelho ter sido aberto, mas é ter sido aberto exatamente quando os hebreus precisavam que fosse”. De fato, o próprio livro do Êxodo descreve que o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas” (Êx.14:21). Ele não nega que houve um fenômeno natural (o forte vento oriental durante a noite inteira), mas o atribui a Deus. O maior milagre, portanto, não foi a abertura do mar em si (que em condições naturais poderia ocorrer esporadicamente a cada período de milhares de anos), mas sim o de o mar ter sido aberto exatamente no único momento em que os hebreus oravam, e que precisavam que fosse aberto. 

O problema dos ateus é que, ao tirar Deus da jogada e exclui-o a priori de qualquer explicação, eles colocam no lugar qualquer explicação muito mais absurda, irracional e ilógica, passando a crer em qualquer coisa, quase sempre atribuindo à “sorte” e ao “acaso” os inúmeros casos onde a intervenção divina seria muito mais evidente. Assim, eles mantêm seu ceticismo em relação a Deus, mas adicionam uma medida muito maior de fé em coisas altamente improváveis, para não dizer praticamente impossíveis. Acabam sendo “céticos” em relação a uma coisa, mas excessivamente crédulos em relação a outras várias coisas muito mais improváveis.

É como se você fosse parar em uma ilha deserta, crendo a priori que é impossível que existam seres humanos vivendo ali, e então começa a encontrar grafias nas pedras, um relógio no chão e uma bola de futebol na areia. Mesmo assim, em seu ceticismo prefere negar que pessoas estão ou estiveram ali, e no lugar disso começa a cogitar hipóteses que você considera mais “naturais”, como, por exemplo, o fato de tudo não passar de uma “formação geológica incomum”, ou que os objetos foram criados pelo vento ou pela chuva, ou por erosão ou pela combinação de “forças naturais”.

Seja lá o que for cogitado, será mais absurdo e difícil de ser acreditado do que a hipótese de que pessoas vivem ou viviam ali até pouco tempo. Seria necessário um nível de fé maior em crer nas hipóteses alternativas e “naturais” do que o nível de fé necessário para crer na explicação mais “fácil” e simples: de que algum ser inteligente fabricou o relógio, escreveu nas pedras e gostava de futebol! Como dizia Chesterton, quando deixamos de acreditar em Deus acabamos crendo em qualquer bobagem.

Assim, para o ateu profissional nenhuma prova seria suficiente, pois ele sempre inventaria uma teoria alternativa que – por mais ridícula, absurda e improvável que seja – ele considera mais provável que Deus. Todas as pessoas que foram curadas de doenças incuráveis, que foram desacreditadas pela medicina e depois saradas pela fé, que tiveram a vida transformada, que eram cegas e passaram a ver, paralíticas e passaram a andar, surdas e passaram a ouvir, nada disso será suficiente para o ateu, que sempre estará de coração fechado para qualquer evidência interna ou externa que leve a um Criador, sempre procurando explicar os casos com algo que exija mais fé do que Deus, para manter o ceticismo em relação a Deus.

Há alguns ateus que dizem que creriam se visse um amputado ser curado, e perguntam em tom desafiador “por que Deus não cura os amputados”. A resposta à segunda questão está em João 15:24, que diz que Jesus realizou maravilhas que ninguém mais fez ou é capaz de fazer. Nem na Bíblia alguma outra pessoa do Antigo ou Novo Testamento curou amputados, só Jesus (Lc.22:50-51). Este era um dos sinais únicos de Cristo, exclusivos a ele, como uma prova conclusiva de que era o Messias. Se todos pudessem fazer qualquer tipo de milagre, então não sobraria nenhum milagre que Jesus poderia fazer que o distinguisse e o destacasse dos demais “curandeiros”. Jesus na terra realizou certos milagres únicos que nenhum outro homem havia visto e nem verá. 

Mesmo assim, não acredite em um ateu quando ele diz que creria se visse um amputado ser curado. Isso é puro blefe. Se eles não creem com os cegos que veem, com os paralíticos que andam, com os surdos que ouvem e nem com os mudos que falam, atribuindo os feitos às conjecturas mais absurdas e improváveis, então é óbvio que eles também não se deixariam convencer por um amputado que fosse curado. Eles mais uma vez inventariam uma especulação pseudo-científica que nem de longe resolve o problema ou então lançariam mão do mais famoso trunfo deles, que é a frase: “eu não sei explicar isso, mas isso não significa que é Deus”. E pronto. Não se convenceria.

Além disso, se Deus curasse os amputados, eles mudariam o discurso para os cegos, por exemplo: “Por que Deus não cura os cegos?”. E se curasse os cegos mudariam para os que têm câncer: “Por que Deus não cura os que têm câncer?”. E se curasse os que têm câncer mudariam para os surdos: “Por que Deus não cura os surdos?”. E se curasse os surdos passariam para os paralíticos, e dos paralíticos para os coxos, e dos coxos para os mudos, e assim sucessivamente. Como já foi dito, para o ateu nenhuma prova é suficiente. Nada, nada mesmo.

Há alguns anos eu estava conversando com uma pessoa descrente, que dizia que mesmo se visse um anjo na frente dela, lhe dizendo qualquer coisa que seja, ela mesmo assim não creria no sobrenatural, preferindo crer que era algo como uma alucinação. A velha tática dos ateus em dizer que “se Deus descer do Céu e se manifestar eu creio nele” é falsa. A verdade é que eles não creriam nem assim. Não existe algo que possa ser considerado “evidência suficiente” para eles. Já há uma predisposição à descrença, e mesmo se Deus ou um anjo aparecer diante deles eles serão “crentes” durante alguns minutos, mas logo depois pensarão em causas “racionais” que desmentirão a própria visão. Deus não poderia “provar” sua existência a eles nem desta maneira (supondo que Deus vivesse para provar sua existência a uma criatura!).

Existem inúmeros testemunhos pessoais que entram neste conjunto que nós podemos considerar “orações respondidas”, mas que o ateu irá buscar uma explicação mais irracional que exija mais fé. Para não buscar “testemunhos de testemunhos” (de terceira mão), de pessoas que podem até ser honestas mas que eu não conheço bem, irei citar um fato que aconteceu com a minha mãe, há vários anos. Posso mencionar este porque, embora tenha se passado muito tempo, ainda me lembro como se fosse ontem da alegria dela ao me contar que havia recebido uma carta (carta mesmo, e não e-mail).

Ela estava tão contente que eu pensava que tínhamos ganhado na loteria e mudaríamos para Miami, mas quando ela contou o que aconteceu eu me decepcionei, pelo menos em um primeiro momento. Nada mais tinha acontecido senão que ela tinha recebido uma carta da vizinha fazendo as pazes. “Grande coisa”, eu pensei, desanimado. Depois que ela continuou a contar o relato que eu fui entender o porquê da alegria dela, que não era tanto por causa da carta em si.

Deus (para os cristãos) ou uma “autosugestão” (para os ateus) havia dito audivelmente para ela para ir naquele momento à caixa de correios no portão da casa, porque a vizinha havia enviado uma carta de reconciliação. A ideia era em si mesmo ridícula, por várias razões. Primeiro porque estavam brigadas há muito tempo, segundo porque seria no mínimo estranho que a vizinha entregasse uma carta ao invés de falar pessoalmente, terceiro porque nós quase nunca recebíamos carta nenhuma de pessoa nenhuma (muito menos da vizinha), e quarto porque o que ela ouviu era bem específico, e só poderia se confirmar caso realmente houvesse uma carta naquele momento, daquela pessoa e com aquele conteúdo.

Quando ela foi ao correio e confirmou que havia recebido uma carta (que havia sido colocada ali algumas horas antes) daquela pessoa e com aquele conteúdo, explicou-se a razão da felicidade. Um cristão não precisaria de mais nada para concluir que o que ela ouviu foi mesmo Deus, mas um ateu insistiria na tese de que ela ouviu “coisas da cabeça dela” por “autosugestão”, mesmo sendo algo tão fora do comum, mesmo sendo algo probabilisticamente “impossível” de acontecer por acaso e mesmo sendo algo bem específico que se confirmou totalmente.

Basicamente, ele teria que afirmar que:

a)     A “voz” ouvida foi uma autosugestão, isto é, uma coisa da cabeça dela, e, como algo irreal, praticamente impossível de se concretizar no mundo real, em tese.

b)    Mas, “coincidentemente”, havia mesmo uma carta ali, enviada poucas horas antes, ainda que nós nunca recebêssemos cartas.

c)     “Coincidentemente” também, quem enviou foi exatamente a mesma pessoa que a “voz” havia dito que era, ainda que fosse extremamente improvável pelas circunstâncias (por ser uma pessoa que dificilmente se corresponderia por carta).

d)    “Coincidentemente” também, o tema da carta era exatamente o mesmo que foi dito, ainda que fosse o tema mais improvável de todos, dada as circunstâncias da época entre as duas.

Este “show de coincidências” elevaria a possibilidade disto acontecer “ao natural” (i.e, sem intervenção divina) à quase zero, e as chances de qualquer uma destas coisas não terem acontecido era infinitamente maior, mas o ateu estaria disposto a ser totalmente crédulo em relação a esta probabilidade pífia, mas inteiramente cético em relação à hipótese mais simples de Deus[4]. O problema é que para tirar a “hipótese Deus” tão violentamente do cenário os ateus precisariam ter uma prova ainda mais forte da inexistência de Deus, o que eles assumidamente não têm.

No máximo, eles dizem que são ateus porque “não há provas” da existência dele, e não porque eles têm provas do contrário. Portanto Deus permaneceria como hipótese, e como hipótese seria menos improvável do que a combinação absurda de “coincidências” na complexidade do Universo, na existência da vida, na complexidade da vida, nas orações respondidas, nas curas instantâneas por fé e nas profecias cumpridas.

Por fim, é errada a conclusão de que qualquer oração não respondida “prove” que Deus não exista. Um estudo completo sobre as causas das orações não respondidas demandaria um livro inteiro para tratar teologicamente um tema tão profundo como a oração, mas seis causas da oração não-respondida foram mencionadas pelo pastor David Wilkerson em um artigo onde ele aborda mais de perto cada um delas[5], e aqui eu apenas citarei as razões:

a)     Quando a oração não está de acordo com a vontade de Deus.
b)    Quando tem como meta realizar uma cobiça, sonho ou ilusão.
c)     Quando não fazemos a nossa parte para que a oração se cumpra.
d)    Quando guardamos ressentimento ou ódio no coração contra alguém.
e)     Quando não esperamos muito delas.
f)      Quando oramos para colocar Deus à prova.

Mesmo na Bíblia estas razões foram suficientes para que Deus não atendesse as orações de um servo dele. Não deveríamos esperar, portanto, que Deus atenda positivamente a todas as orações nos nossos dias, o que não significa, obviamente, que Ele não exista ou que não responda orações.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")


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[4] Este é somente um exemplo, mas existem milhares senão milhões de cristãos que passaram por “coincidências” do tipo, cuja probabilidade de ter sido o acaso e não Deus é virtualmente zero.

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